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A heróica e desprezada BATALHA DA BORRACHA

Sem ter sido um episódio propriamente militar, a  tentativa de ampliar dramaticamente a produção brasileira de borracha foi um projeto governamental que recebeu apoio técnico e financeiro dos Norte-Americanos em guerra contra o eixo Roma Berlim e Tóquio. os nordestinos recrutados para trabalha nos seringais foram chamados de ''soldados da borracha'', mas jamais receberam soldo nem medalhas. A BATALHA DA BORRACHA. para o governo brasileiro era uma oportunidade para mitigar alguns dos mais graves probemas sociais brasileiros. somente em Fortaleza, cerca de 30 mil flagelados da seca de 1941-1942 estavam disponíveis para ser enviados imediatamente para os seringais. mesmo que de forma pouco organizada, o DNI ( departamento nacional de imigração) ainda conseguiu enviar quase 15 mil pessoas para a Amazônia, durante o ano de 1942, metade das quais homens aptos a o trabalho nos seringais. aqueles eram os primeiros soldados da borracha. simples retirantes que se amontoavam  com suas famílias por todo o nordeste, fugindo de uma seca que treimava em não acabar e os reduzia à miséria. Mas, aquele primeiro grupo era, ividentemente, muito pequeno diante das pretenções americanas.
O problema era a baixa capacidade de transportes das empresas de navegação dos rios amazônicos e a pouca disponibilidade de alojamento para os trabalhadores em trânsito. Mesmo com o fornecimento de passagens do Lloyd, com a abertura de créditos especiais pelo governo brasileiro e com a promessa do governo americano de pagar US$100 por um novo trabalhador instalado no seringal, as dificuldades eram imensas e pareciam intransponíveis. Isso só começou a ser solucionado em 1943 por meio do investimento maciço que os americanos realizam no Snapp (Serviço de navegação e Administração dos portos de Pará) e da construção de alojamentos espalhados ao longo do trajeto percorrido pelos soldados da borracha.
Para acelerar ainda mais a transferência de trabalhadores para a Amazônia e aumentar significamente sua produção de borracha os governos americanos e brasileiro encarregam diversos orgãos do gerenciamento do progama. Pelo lado americano estavam envolvidos a RDC (Rubber Development Corporation), a Board of Economic Warfare, a RRC (Rubber Reserve Company), a reconstrucction Finance Corporation. Pelo lado brasileiro, foram criados a Semta (Serviço Especial de Mobilização de trabalhadores para a Amazônia), depois substituído pela Caeta(Comissão adiministrativade encaminhamento de trabalhadores para a Amazônia), a Sava(superintendência do abastecimento do vale Amazônico) e o BBC (Banco de Crédito da Borracha), entre outor.
Esse orgãos, em muitos casos, se sobrepunham a outros já existentes, como o DNI, e não é preciso muito esforço para imaginar o tamanho da confussão oficial que se tornou o empreendimento.
No noroeste, de onde deveria sair o maior número de soldados, o Semta convocou padres, médicos e professores para o recrutamento de todos os homens aptos ao grande projeto que precisava ser empreendido nas florestas Amazônicas. O artista suíço Chabloz foi contratado para produzir material de divulgação acerca da "realidade" que os esperava.Nos cartazes coloridos os seringueiros apareciam recolhendo baldes de látex que escorria como água de grossas seringueiras. Todo o caminho que levava do sertão nordestino, seco e amarelo, ao paraíso verde e úmido da amazônia estava retratado naqueles cartazes repletos de palavras fortes e otimistas. O slogan "Borracha da Vitória" tornou-se o emblema da mobilização realizada por todo o nordeste.     OS CAMINHOS DA GUERRA
Ao chegar aos alojamentos organizados pelo Semta, o trabalhador recebia um chapéu, um par de alpargatas, uma blusa de morim branco, uma calsa de mescla azul, uma caneca, um talher, um prato, uma rede, cigarros, um salário de meio dolar por dia e a expectativa de logo embarcar para a Amazônia. Os navios do Loyde saíram dos portos nordestinos abarrotados de homens, mulheres e crianças de todas as partes do Brasil. Primeiro rumo ao Maranhão e depois para Belém, Manaus, Rio Branco, e outras cidades menores nas quais as turmas de trabalhadores seriam entregues  aos "patrões" (seringalistas) que deveriam conduzi-los até os seringais onde, finalmente, poderia cumprir seu dever para a pátria.
Aparentemente, tudo muito organizado. Pelo menos diante dos olhos dos americanos, que estavam nos fornecendo de centavos de embarcações e caminhões, toneladas de suprimentos e muito, muito dinheiro. Tanto dinheiro que sobrava para desperdiçar ainda mais propaganda. E esbanjar em erros administrativos que fazia, por exemplo, uma pequena cidade no sertão nordestino ser inundada po um enorme carregamentode café solicitado não sabe por quem. Ou possibilitar o sumiço de mais de 1.500 mulas entre São Paulo e o Acre.
Na verdade, o caminho até o Eldorado amazônico era muito longo e difícil do que poderiam imaginar tanto os americanos quanto os soldados da borracha.

A começar pelo medo do ataque de submarinos alemães que se espalhava entre as famílias amontadas a bordo dos navios do Loyd, sempre comboiados por caça-minas e aviões de guerra. A memória de quem viveu aquela experiência ficou marcada por aqueles momentos proibido até acender fósforos ou mesmo falar. Tempo de medo que estavam só começando. a partir do Maranhão, não havia um fluxo organizado de encaminhamento de trabalhadores para os seringas. frequentimento era preciso espera muito, antes que as turmas tivessem oportunidade de seguir viagem. a maioria dos alojamentos que recebiam os imigrantes em trânsitos eram verdadeiros campos de concentração, em que as péssimas condições de alimentação e higiene destruíam a saúde dos trabalhadores, antes mesmo que tentassem o primeiro corte nos seringueiras. não que faltasse alimento. havia comida, e muita. mas era intragável, tão ruim e mal preparada que comum ver as lixeiras dos alojamentos cheias enquanto as pessoas adoeciam de fome. muitos alojamentos foram construídos em lugares infestados pela malária, febre amarela e icterícia surtos epidêmicos matavam dezenas de soldados da borracha e seus familiares nos pousos de Belém, Manaus e outros portos amazônicos. a o contrário do que afirmava a propaganda oficial, o atendimento médico inexistia, e conflitos e todo sorte se espalhavam entre os soldados já quase derrotados. a desordem era tanta que muitos abamdonaram os alojamentos e passaram a perambular pelas ruas de Manaus e outras cidades, buscando um modo de retorna a sua terra de origem ou de pelo menos sobreviver. Uma nova forma de escravidão. os que conseguiam efetivamente chegar aos seringais, depois de 3 ou mais de viagem, já sabiam que suas dificuldade  estavam apenas iniciando. os recém-chegados eram tratados como ''brabos''-aqueles que ainda não sabiam cortar seringa e cuja produção no 1 ano era sempre pequena. só a parti do 02 ano de trabalho o seringueiro era considerado''manso''. mesmo assim, desde o momento em que era escolhido e embarcado para o seringal, o brabo já começava a acumular uma dívida  com o patrão. o mecanismo de prender o trabalhador por meio de uma dívida interminável foi chamado de ''sistema de aviamento''  essa dívida crescia rapidamente,  porque  tudo que se recebia no serigal era cobrado. mantimentos, ferramentas, tigelas, roupas, armas,  munição, remédios, tudo enfim era anotado na conta corrente. só no fim da safra, a produção de borracha de cada seringueiro era abatida do valor de sua dívida. mas o valor de sua dívida. era, quase sempre, inferior á quantia devida ao patrão. e não adiantava argumentar que o valor cobrado pelas mercadorias no barracão do seringalistas era 5 ou mais vezes maior do que aquele praticado nas cidades : os seringueiros eram proibido de vender ou comprar em quelquer outro lugar. os soldados da borracha descobriam que, no seringal, a palavra do patrão era lei. os finaciadores americanos insistiam em não repetir os abusos do sistema de aviamento que  caracterizara o 1 ciclo da borracha. na prática, entre o contrato de trabalho assinado entre seringalista e soldados da borracha quase nunca respeitado. a não ser para  assegurar os direitos dos seringalistas. como no caso da cláusula que impedia o seringueiro de abandonar o seringal enquanto não saldasse sua dívida com o patrão, o que tornava a maioria dos seringueiros verdadeiros escravos, prisioneiros das ''colocações de seringa (unidades de produção de látex em que estavam instalados. Uma guerra que não terminou. mesmo com todos os problemas enfrentados ( ou provocados) pelos órgãos encarregados da batalha da borracha, cerca de 60 mil pessoas foram enviados para os seringais amazônicos entre 1942 e 1945. desse total, quase a metade acabou morrendo em razão das péssimas condições de transporte, alojamento e alimentação durante a viagem. como também pela absoluta falta de assistência médica, ou mesmo em função dos inúmeros problemas ou conflitos enfrentados nos seringais.  ainda assim o crescimento da produção de borracha na Amazônia nesse período foi infinitamente menor do que  o esperado. o que levou o governo americano, ja a parti de 1944, a transferir muitas de suas atribuições para órgãos brasileiros. e tão logo a guerra mundial chegou ao fim, no seguinte, os EUA se apressaram em cancelar todos os acordos referentes á produçao de borracha amazônica. o acesso ás regiões produtoras do Sudeste Asiático se achava novamente aberto e o mercado internacional logo se normalizaria. terminava a batalha da Borracha, mas não a guerra travada pelos seus soldados. Imersos na solidão de suas colocações no interior da floresta, muitos deles  nem sequer foram avisados de que a guerra tinha terminando, e só viriam a descobrir isso anos depois. alguns voltaram para suas regiões de origem exatamente como haviam partido, sem um tostão no bolso, ou pior, alquebrados e sem saúde. outros aproveitaram a oportunidade de criar raízes na floresta e ali construir suas vidas. poucos, muito poucos, conseguiram tirar algum proveito econômico daquela batalha incompreensível, aparentemente sen armas,sem tiros e que produziu tantas vítimas. pelo menos uma coisa todos  os soldados da Borracha, sem exceção, receberam. o descanso do governo brasileiro, que os abandonou á própria sorte, apesar de todos os acordos e das promessas repetidas antes e durante a batalha da Borracha. só a parti da constituição de 1988,mais de 40 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, os soldados da borracha ainda vivos passaram a receber uma pensão como reconhecimento pelo serviço prestado ao país uma pensão irrisória, dez veze menor que a pensão recebida por aqueles que foram lutar na Itália. por isso, ainda hoje em diversas cidades brasileiras, no dia 1 de maio os soldados da Borracha se reúnem para continuar a lutar pelo reconhecimento de seus direitos a comparação é dramática: dos 20 mil brasileiros que lutaram na Itália, morreram somente 454 mil combatentes. entre os 60 mil soldados da Borracha, porém cerca da metade morreu durante a guerra.